A (falsa) polêmica é antiga, como antiga também é a forma presidenta na língua portuguesa. Leiam o texto abaixo, que fez parte da prova para professor docente do Governo do Estado do RJ, em 2009, portanto dois anos antes da eleição de Dilma Roussef, atual presidenta do Brasil.
Tendo por objetivo estudos da Língua Portuguesa e da Gramática Normativa, este blog é voltado para alunos do Ensino Médio que desejem aprofundar os conhecimentos adquiridos em sala de aula.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Não
esqueçam, Brasil é
com 's'
O
GLOBO
I
Sexta·feira
31.8.2012
CLAUDIO
CEZAR HENRIQUES
(1º§)
Acabaram as
Olimpíadas, mas a capital inglesa continua a saga esportiva.
Iniciados em Roma-1960 e desde Seul-1988 chamados Paralympic Games,
os Jogos que sempre chamamos de Paraolimpícos aparecem este ano com
a nomenclatura do inglês. Para atender a um pedido do comitê
organizador, agora escrevemos essa palavra sem O: Paralimpíadas ...
(2º§)
O português não é o inglês, e a nova palavra gera estranheza
a nossos ouvidos e olhos. Afinal, não há razão técnica que
explique o sumiço do O e a manutenção do A. Nesses casos, quando
nossa língua pratica a redução de um hiato, quem cai é a primeira
vogal: "de-onde" não vira "dende" (vira donde) e
"para-o céu" não vira "pra céu" (vira pro
céu). Não precisava, mas, se era para cortar uma vogal no nome do
evento, o esperado era que fosse Parolimpíadas.
(3º§)
Eis aí uma lógica invertida, que ganha espaço no noticiário.
Será que seremos levados a anglicizar a sigla do CPI, Comitê
Paralímpico Internacional, passando a escrever IPC, International
Paralympic Committee? Claro que não. A ONU não vai virar UN nem a
Otan vai virar Nato do inglês. Sabemos que na língua tudo tem a ver
com o uso vigente à época de sua criação ou difusão, inclusive
as siglas: no Brasil podemos falar em OVNI, mas talvez a moda seja
dizer UFO, o que explica a opção por Aids em terras brasucas - Sida
só em Portugal.
(4º§)
E por falar em terras brasucas (assim escritas porque são
brasileiras) acaba de surgir um concurso de palavras, promovido por
empresa multinacional, que é capaz de gerar desconfianças sobre
nossas identidades brasucas. O nome oficial da bola da Copa do Mundo
de 2014 pode ser brazuca, com Z.
(5º§)
Ah, é só o nome da bola, ninguém deve ligar para isso. Claro
que é só o nome da bola, mas cabe perguntar: por que o nome
proposto para a bola da Copa no Brasil tem de ser brazuca, com Z? Se
a Copa fosse em Portugal, a bola poderia ter o nome de portuga; se
fosse em Moçambíque, poderia ser moçambicuda ... No Brasil, só
poderia ser brasuca!
(6º§) Estamos
ou não diante de um paradoxo? Escrever brazuca porque Brasil em
inglês é Brazil faz lembrar a letra da canção de Rita Lee, que
diz: "Vê se não esquece, meu Brasil é com S" (e nossa
brasuca também, claro).
(7º§) Dos
bancos escolares aos magros resultados obtidos por nossos estudantes
nas provas de português do Enem, muita coisa ainda cheira a
paternalismo por aqui. A ortografia não é só uma superfície
comercial para o nome de um evento ou de um produto a ser explorado
pela máquina do mercado. O modo de escrever palavras novas
internacionalizadas revela alguma coisa sobre um povo, entre elas a
maneira como esse povo "veste" sua língua (a ortografia é
apenas uma vestimenta para as palavras).
(8º§) Resta
saber se vai adiantar dizer agora que as grafias "paraolímpíadas"
e "brasuca" estão assim registradas no Vocabulário
Ortográfico da ABL e que todas essas coisas têm a ver umas com as
outras ...
Claudio Cezar
Henriques é professor de Língua Portuguesa da Universidade
do Estado do Rio de Ianeiro
Assinar:
Postagens (Atom)